sexta-feira, 11 de julho de 2014





As múltiplas faces do AEE


Telma Andrade de Vasconcelos

Algumas reflexões sobre “O modelo dos modelos” de Italo Calvino.

O texto  “ O modelo dos modelos” de Italo Calvino nos leva à algumas reflexões no âmbito do Atendimento Educacional Especializado – AEE que de acordo com (SEESP/MEC, 2008) é um serviço da educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas". De acordo com o Art. 2º da Resolução nº 4 de 08/10/2009, o AEE tem a função de  complementar ou suplementar a formação do aluno,  disponibilizando  serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que visam a eliminação das barreiras que impedem a   participação plena na sociedade e o desenvolvimento de sua aprendizagem.

 Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e realidade coincidam”.

 Vemos que no atendimento educacional especializado não há um modelo único como padrão para todos os casos, pois cada aluno é uma pessoa, única, com suas limitações e peculiaridades. Nessas circunstâncias, temos como  exemplo o atendimento especializado  para alunos com Deficiência Física onde o  professor  deve criar  condições adequadas à sua locomoção, comunicação, conforto e segurança em todos os espaços do contexto escolar para que possa acessar os conhecimentos escolares, (MEC/SEESP,2007,p.27). Cada aluno tem um tipo de recurso a ser utilizado, uma duração de atendimento e  um plano de ação que garanta sua participação e aprendizagem nas atividades escolares (Mantoan, 2006). Nesse sentido é possível dizer que a expressão  “multifuncional”  cabe muito bem ao AEE,  pois de acordo com o Art. 2º, parágrafo 2º do Decreto 7.611/11 um dos objetivos desse serviço é “atender as necessidades específicas das pessoas público-alvo da educação especial[...]” e com esse fim deve organizar-se de acordo com a especificidade de cada indivíduo. A Resolução nº4/2009 em seu Art. 4º define a clientela do AEE como sendo os alunos com deficiência de natureza física, intelectual, mental ou sensorial; com transtornos globais do desenvolvimento: os que apresentam alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras, incluindo os alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo  da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação e alunos com altas habilidades/superdotação.

“A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: [...] se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço” (Italo Calvino).

 O autor nos permite estabelecer uma relação  com os paradigmas da educação especial que se desenharam ao longo do processo histórico e influenciaram os modelos de educação para as pessoas com deficiência por um período duradouro no âmbito mundial. No Brasil, “os modelos” foram moldados de acordo com os interesses do poder público, por um longo período. Os acordos internacionais contribuíram para o surgimento de políticas educacionais na perspectiva inclusiva. Esse novo modelo, que redefiniu a educação especial  tem  garantia na Constituição Federal de 1988 que apontou a educação como um direito de todos, em seu Art. 205 e estabeleceu a igualdade de condições de acesso e permanência na escola no Art. 206.
 
“[...] eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”” ( Italo Calvino).

 São perceptíveis as dificuldades que os sistemas de ensino enfrentam para organizarem-se tendo em vista a inclusão plena das pessoas com deficiência. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: “[...]  a formação [...] dos demais profissionais da educação para a inclusão [...]”, no entanto o descumprimento dessa garantia pelo poder público contribui significativamente para se instalar o ‘modelo de inclusão’ onde o aluno com deficiência é inserido nas classes comuns, mas por suas características é excluído  do processo de aprendizagem.  Essas práticas permitem a descaracterização do modelo de escola inclusiva e para SEESP/MEC (2010) “a escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas.”


REFERÊNCIAS

Atendimento Educacional Especializado: deficiência física (MEC/SEESP, 2007).

BRASIL. Decreto nº 7.611 de 17/11/11. Brasília, 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

BRASIL. Resolução nº 4/2009: Ministério da Educação- MEC; Conselho Nacional de Educação –CNE;  Câmara de Educação Básica – CEB.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Inclusão: revista da educação especial, v. 4, n 1, janeiro/junho 2008. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

CALVINO, Italo: Texto “O modelo dos modelos”. Atendimento Educacional Especializado e Metodologia da Pesquisa

COLETÂNEA UFC-MEC: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 01: A Escola Comum Inclusiva. (MEC/SEESP, 2010)

MANTOAN, Maria Teresa Eglér: Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? Moderna, 2006.




quinta-feira, 5 de junho de 2014

ROTINA PARA AUTISTA


http://www.altenburg.com.br/blog/tag/aprendizado/
Acesso em 26/05/14

O que é o Autismo?

O Autismo é um transtorno do desenvolvimento (também chamado de Transtorno do Espectro Autista), onde a criança apresenta alterações significativas na comunicação, na interação social e no comportamento. Essas alterações aparecem antes dos 03 anos de idade, mas em alguns casos são perceptíveis já nos primeiros meses de vida.

Os autistas são crianças que modificam seu comportamento quando algo é mudado em sua rotina, por isso necessitam ter segurança na sua vida diária. Para auxiliá-lo nessa necessidade, podemos proporcionar a antecipação dos eventos no seu dia a dia, planejando uma rotina que deve ser clara e definida para proporcionar-lhe  previsibilidade,intimidade, autonomia e tranquilidade, minimizando a ansiedade da criança nos contextos  em que está inserida. De acordo com Belisário Filho (2010) “Quanto mais cedo a criança com TGD puder antecipar o que acontece diariamente na escola, mais familiar e possível de ser reconhecida se tornará para ela a vivência escolar...”

Por serem  aprendizes visuais a programação visual do seu cotidiano pode ser de grande utilidade para as crianças autistas, principalmente para as mais jovens,para aqueles que tem a fala comprometida ou ausência da fala,pois a rotina permite  estabelecer a associação entre a atividade e o símbolo facilitando tanto a comunicação quanto à compreensão.


 O que é Rotina?

A Rotina é um instrumento que demanda uma sequência de ações ou atividades cuja  a função é  antecipar os acontecimentos do dia a dia de maneira organizada possibilitando autonomia e segurança para a criança autista. Deve ser elaborada de acordo com as suas  necessidades /e ou interesses.

No espaço escolar, um quadro com a rotina é essencial para o  trabalho com alunos autistas. Ela vai nortear todas as ações dentro da escola, contribuindo para antecipar as atividades diárias, ampliando a comunicação e estimulando a interação do aluno com seus pares, visto que os benefícios serão  compartilhados com todos, especialmente por alunos com idade da educação infantil e das primeiras séries do ensino fundamental. Podemos utilizar um quadro de rotina para  os  espaços do contexto escolar onde as atividades forem realizadas: sala comum, no Atendimento Educacional Especializado- AEE, biblioteca, sala de informática e outros.

Sem a Rotina, a adaptação do autista é difícil e demorada. As imagens  devem  ser feitas do ambiente em que o autista transita e das pessoas com quem ele convive,  evitando que o mesmo se desestabilize quando ocorrerem  mudanças na sua rotina. 
Isso os deixa menos  ansiosos,  mais participativos, os impulsiona a comentarem entre si as regras e o momento certo de fazer as tarefas, e o professor acaba por trabalhar regras e limites, promovendo a participação de todas as crianças.
Para o autista, a Rotina garante saber o que vem depois, estimula aprender a esperar, aumentando a atenção e concentração, promovendo a organização do seu cotidiano.

Exemplo: Entrada- Oração- Atividade - Higiene - Lanche - Recreio - Jogos - Saída.
 

 Rotina Diária






Para a confecção da Rotina, podem ser usados  cartões com figuras plastificados indicando as atividades fixados no mesmo local todos os dias. O aluno também pode ter uma cópia na sua carteira.  A Rotina  pode ser levado para casa  para que os pais saibam o que aconteceu na escola, estimulando também a conversa  com o filho sobre os acontecimentos na escola.

O quadro de rotina também pode ser confeccionado em formato de relógio onde a  organização obedeça a  sequência das atividades  de forma que o aluno associe  a realização das atividades à ideia de tempo. O recurso pode ser confeccionado com papel cartão colorido e com as imagens que representem os eventos do dia.


Quadro de Rotina



http://www.blogger.com/profile/03986638397615942956
Acesso em 25/05/14


Desenhando a Rotina

As Rotinas podem ser elaboradas também com desenhos da criança fazendo as atividades ou figuras que representem as mesmas, pois estamos visualmente falando. 




Chegando à escola



Interagindo com seus pares




Compartilhando atividades




Hora da Higiene


Organizando a sala                              
          
 Acesso 22/05/14


Fotografando a Rotina

Também pode ser feita uma Rotina com fotos onde tenha a demonstração das atividades na ordem que serão realizadas até o término do período escolar.



                                                                                                            http://www.trilhadacrianca.com.br/Default2.aspx?conteudo=4
Acesso em 25/05/14



REFERÊNCIA

BELISIÁRIO FILHO, J. F.; CUNHA, P. Coletânea UFC-MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 9: Transtornos Globais do Desenvolvimento.

FONTE:
http://babaluespecial.blogspot.com.br/2013/01/rotina-com-cartoes-para-autista.html.
Acesso 22/05/14
        

sábado, 8 de março de 2014

Reflexões sobre a Inclusão Escolar de Pessoas com Surdez



Telma Andrade de Vasconcelos

O texto Educação Escolar de Pessoas com Surdez e o AEE em Construção, de Mirlene Damázio, que é objeto desse trabalho, apresenta a educação das pessoas com surdez num contexto de debates, discussões e desafios propondo políticas educacionais inclusivas com enfoque bilíngue à luz da garantia de instrumentos legais vigentes e centraliza essas práticas na visão de homem capaz para desenvolver suas potencialidades nos processos perceptivos, linguísticos e cognitivos, destacando a eficiência do serviço complementar oferecido pelo AEE PS para efetivar a inclusão dessas pessoas na escola e fora dela.

Estudiosos e pesquisadores, há algum tempo, tem centrado suas discussões em torno das concepções oralistas e gestualistas que defendem a educação das pessoas com surdez na aceitação de uma ou de outra língua, atribuindo a esse fator o êxito ou o fracasso escolar das pessoas com surdez.

Para os pensadores que defendem a tendência bilíngue é necessário construir práticas pedagógicas centradas nas possibilidades de evolução das potencialidades das pessoas com surdez, possibilitando-lhes progressos nos aspectos individuais e coletivos.

A Política Nacional de Educação Especial numa perspectiva inclusiva, tem se tornado promitente, principalmente para as pessoas com surdez, trazendo proposta com tendência bilíngue para a escolarização das PS, sendo legitimada pelo Decreto 5.626/05 que regulamentou a Lei de Libras e deu orientações para a organização de turmas bilíngues, priorizando a Língua de Sinais como a primeira língua dessas pessoas e a Língua Portuguesa escrita, a segunda língua.




Figura: Professor explorando com o aluno com surdez o conteúdo sobre os estados brasileiros.

A viabilização dessa proposta depende de um ambiente bilíngue cuja execução compete ao AEE PS que se configura como um serviço complementar visando o desenvolvimento dos conhecimentos na sala comum, embasado nas vivências do aluno, de acordo com Damázio “Para efetivar o cotidiano escolar do atendimento educacional especializado para a pessoa com surdez, aplicamos a metodologia vivencial, que leva o aluno a aprender a aprender” (2010, p.50), efetivando-se com a execução dos três momentos didático-pedagógicos: AEE PS em LIBRAS, AEE PS para o ensino de LIBRAS e o AEE PS para o ensino de Língua Portuguesa numa rede inter-relacional com os professores comuns e professores especialista/Libras que se interligam com o propósito de garantir o acesso do aluno aos conteúdos curriculares, promovendo a inclusão da pessoa com surdez no espaço escolar.


REFERÊNCIAS:

DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, 2010. p. 46-57. 


http://blogpiauinclusivo.blogspot.com.br/2011/06/inclusao-dos-alunos-surdos-na-unidade.html